Artigo: As jovens gerações ainda acreditam no Natal?

O Censo de 2022 apontou aumento entre jovens de 20 e 24 anos declarados sem religião

Artigo publicado no Jornal Zero Hora e em GZH, em 22/12/2025
Por Patrícia Espíndola de Lima Teixeira, coordenadora do Observatório Juventudes PUCRS/Rede Marista


Anos atrás, uma jovem observou o pingente que carrego no pescoço: “É tua mãe?”, perguntou. “É Maria, mãe de Jesus e, sim, também minha”, respondi. Sua dúvida era sincera: “Quem é esse Jesus? Eu não o conheço”. Conversamos sobre elementos do cristianismo no cotidiano. A jovem relatou uma interação limitada ao meio digital. Apesar da fluidez online, seu repertório sociocultural era restrito à internet. Brincou: “Acho que minhas bolhas nunca me ofereceram essas informações”.

 

"Se por um lado houve declínio no paradigma tradicional, por outro não há sinais de perda do sentido do sagrado entre os jovens"


O Natal me faz recordar esse encontro. Para os cristãos, o nascimento de Jesus celebra Deus feito homem e sua mensagem de amor, esperança e fé. Historicamente, o cristianismo marca a nossa cultura. No entanto, o Censo de 2022 apontou aumento entre jovens de 20 e 24 anos declarados sem religião (14,3%). A interrogativa não era sobre a ausência de fé, mas sobre adesão institucional. Se por um lado houve declínio no paradigma tradicional, por outro não há sinais de perda do sentido do sagrado entre os jovens.

Nas macro e microbolhas atuais talvez pesem mais o consumo e o adoecimento social gerado pela lógica performática de dezembro do que o sentido espiritual. Assim, a pergunta “As jovens gerações ainda acreditam no Natal?” se desdobra: de que Natal estamos falando? O que apresentamos como Natal aos jovens? O esvaziamento dos vínculos humanizadores não esvaziaria também a esperança de um mundo menos tóxico para eles?

Se a vida algoritmizada reinterpreta os sagrados em memes e performances, não caberia a nós resgatarmos o espírito do Natal — não necessariamente por tradição, mas por uma ética de solidariedade, interioridade e cuidado? Talvez a sede de vida mais autêntica que atravessa tantos jovens encontre caminhos nos vínculos saudáveis, na presença empática e nas relações pacificadoras. E esse é o outro nome do Natal de Jesus: Vida que nasce!