Com a palavra, a jovem:
Teresa Hofmeister Mendonça, estudante de Pedagogia e jovem autista
Ah… a juventude! Tempo de experiências, descobertas, formação mais concreta da identidade e tantos outros momentos únicos. Um período valioso o qual muitos adultos gostariam de reviver: seus famosos “anos de ouro”. Ao observarmos a forma que a mídia retrata esse momento de vida, podemos destacar algumas vivências comuns: muitas festas, faculdade, rebeldia, amigos, sair de casa, amores, enfim: um mar de novas aventuras.
Agora, que já temos construído um imaginário do que é um jovem médio, vamos fazer um novo exercício. Faço minha primeira pergunta: o que as pessoas veem quando pensam no Transtorno do Espectro Autista? Ao pesquisar rapidamente na internet “pessoa autista”, das primeiras trinta imagens, vinte e sete retratam crianças. Isso revela o grande estereótipo atual do autismo: uma criança, do sexo masculino, que não faz contato visual, não fala e tem estereotipias (movimentos repetitivos) acentuados, que geralmente se encaixaria no nível 2 ou 3 de suporte.
Aqui enfrentamos nossa segunda pergunta: onde vão parar as crianças autistas? E eu respondo com firmeza: nós continuamos existindo! O autismo é o que chamamos de transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, ele diz respeito à forma do cérebro do indivíduo funcionar. As principais características são: padrões repetitivos de comportamento, dificuldades em interações sociais e de comunicação, que causam prejuízos significativos no cotidiano do indivíduo (configurando deficiência). E nada some de uma hora para outra. Eu nasci autista e autista vou permanecer para sempre!
Tendo isso em mente, é preciso conhecer um conceito chamado “alístico”, que diz respeito às experiências não autísticas de viver. Minha forma de existir é diferente da forma alística. Minhas características provenientes do autismo não somem uma vez que eu cresci. Naturalmente, portanto, minha vivência juvenil também é diferente do senso comum do que é a juventude.
Assim, tendo em mente o que foi exposto sobre juventude e sobre o Transtorno do Espectro Autista, podemos analisar a interação entre os conceitos. Para um estudante autista com dificuldades de aprendizagem, a universidade muitas vezes não é uma realidade. Para jovens autistas com déficits sociais marcantes, o isolamento social muitas vezes se torna a norma. Para jovens autistas com grande rigidez cognitiva, a rotina estrita toma o lugar da espontaneidade. Para jovens autistas com sensibilidades sensoriais, locais com muitos sons (como shows e festas) são torturantes.
Muitas vezes, precisamos de terapias, temos “paladar infantil” ou temos gostos diferentes da maior parte das pessoas da nossa idade. Nem todo autista vai ter a mesma dificuldade: somos plurais - afinal, somos humanos. Alguns podem ter menos necessidade de suporte em determinadas situações, enquanto outros precisam de mais (o que não torna um menos autista que outro). Mas acreditem: nada disso nos torna menos jovens!
A meu ver, não são as vivências juvenis que determinam a juventude, mas sim, a juventude que determina o que são experiências juvenis! Para finalizar, faço meu terceiro questionamento: até quando a sociedade vai enxergar a juventude apenas aos moldes alísticos?
Com a palavra, a especialista:
Simone Martins da Silva, Dra. em Educação Inclusiva, Pedagoga e Contadora de histórias
--- Olá Teresa, a jovem de olhos que carregam o céu inteiro! És a juventude no presente e futuro em marcha, não em retrato de vitral!
--- Olá Bernardo, o poeta! A juventude é um tempo de experiências, descobertas, formação mais concreta da identidade e tantos outros momentos únicos. Um período valioso o qual muitos adultos gostariam de reviver: seus famosos “anos de ouro”. Ao observarmos a forma que a mídia retrata essa fase da vida, podemos destacar algumas vivências comuns: muitas festas, faculdade, rebeldia, amigos, sair de casa, amores, enfim: um mar de novas aventuras.
--- Na genuína (an)dança da vida, aventurar-se e florescer é preciso, Teresa!
--- Bernardo, Agora, que já temos construído um imaginário do que é um jovem médio, vamos fazer um novo exercício? Faço minha primeira pergunta: o que as pessoas veem quando pensam no Transtorno do Espectro Autista? Ao pesquisar rapidamente na internet “pessoa autista”, das primeiras trinta imagens, vinte e sete retratam crianças. Isso revela o grande estereótipo atual do autismo: uma criança, do sexo masculino, que não faz contato visual, não fala e tem estereotipias (movimentos repetitivos) acentuados, que geralmente se encaixaria no nível 2 ou 3 de suporte.
--- Teresa, posso contar um segredo? Tu consegues espalhar?
--- Sim, podes contar. Mas... não seria guardar o segredo?! Hummmm.... acho que entendi... os poetas gostam de brincam com as palavras, não é mesmo?!
--- Tenho uma coleção preciosa: de pessoas! Coleciono pessoas de diferentes alturas, idades, ideias, raças, etnias, religião etc. Guardo minha coleção em um potinho de tampa aberta com o dizer: “somos todos igualmente diferentes”. Um dia conheci pessoas que só faziam “pendurar etiquetas” com dizeres mais ou menos assim: “tu és isso”; “tu não podes aquilo”; “aquilo tu não consegues aprender”; “nem adianta tentar”! Palavras que “etiquetam” a pessoa são indignas e hão de acabar para então a diversidade humana seu lugar e vez ocupar!
--- Que interessante esse modo de pensar, Bernardo. Posso te fazer uma segunda pergunta?
--- Com certeza, estou aqui para te escutar!
--- Caro poeta, e onde vão parar as crianças autistas? E eu respondo com firmeza: nós continuamos existindo! O autismo é o que chamamos de transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, ele diz respeito à forma do cérebro do indivíduo funcionar. As principais características são: padrões repetitivos de comportamento, dificuldades em interações sociais e de comunicação, que causam prejuízos significativos no cotidiano do indivíduo (configurando deficiência). E nada some de uma hora para outra. Eu nasci autista e autista vou permanecer para sempre!
--- Que boniteza de pergunta e já resposta, Teresa! Curioso e inquieto que sou, o mundo fui espiar, para em tempo a mente ressignificar. E sabes quais descobertas fiz: “cada uno a su manera”; “as pessoas são iguais porque são todas da espécie humana e diferentes, porque são únicas: não se repetem”; “tudo bem ser diferente - as diferenças são valores humanos”; “toda pessoa é capaz de aprender”; “as diferenças das pessoas são os seus sagrados - e devem ser respeitados, reconhecidos e valorizados”. Esse (com)passo tem batida “Aut” (própria), Teresa. Uma batida humana, diversa e libertadora, iluminada por vaga-lumes! É preciso ajustar as lentes para olharmos além do que se vê. Faz sentido para ti?
--- Simmmmm, tendo isso em mente, é possível compreender um conceito chamado “alístico”, que diz respeito às experiências não-autísticas de viver. Minha forma de existir é diferente da forma alística e tudo bem! Minhas características provenientes do autismo não somem uma vez que eu cresci. Naturalmente, portanto, minha vivência juvenil também é diferente do senso comum do que é a juventude.
--- Isso mesmo! Assim como as etiquetas não dão conta de explicar as humanezas da pessoa, também “uma só juventude”, não consegue nomear essa grandeza. Somente esticando o horizonte e acrescentando o “s”, “juventudes”, a cultura e o protagonismo resplandecem.
--- Bernardo, tendo em mente o que foi exposto sobre “juventudes” e sobre o Transtorno do Espectro Autista, podemos analisar a interação entre os conceitos? Para um estudante autista com dificuldades de aprendizagem, a Universidade muitas vezes não é uma realidade. Para jovens autistas com déficits sociais marcantes, o isolamento social muitas vezes se torna a norma. Para jovens autistas com grande rigidez cognitiva, a rotina estrita toma o lugar da espontaneidade. Para jovens autistas com sensibilidades sensoriais, locais com muitos sons (como shows e festas) são torturantes.
--- Teresa, nossa caminhada está se transformando em percurso- pelos sentidos do caminhar e na universidade chegar. “Universitas” é do latim e significa "todo", "mundo", “universal”, ou seja, “espaço para toda gente”: eu, tu, ele, nós, vós, eles! Essa prosa não é sobre os outros! Essa prosa é sobre me, mim comigo; te, ti, contigo; nos, nós conosco!
Os desafios existirão nalgum lugar; andaremos juntos e um a um a melhor maneira de superar.
--- Sim, muitas vezes, precisamos de terapias, temos “paladar infantil” ou temos gostos diferentes da maior parte das pessoas da nossa idade. Nem todo autista vai ter a mesma dificuldade: somos plurais - afinal, somos humanos. Alguns podem ter menos necessidade de suporte em determinadas situações, enquanto outros precisam de mais (o que não torna um menos autista que outro). Mas acreditem: nada disso nos torna menos jovens!
--- No meio do caminho tinha uma barreira. Tinha uma barreira no meio do caminho! Teresa, tive uma ideia: vamos reinventar as barreiras? Vamos transformá-las em... pontes; Pontes que unem o já conhecido (do lado de cá) e o desconhecido- o que está do lado de lá, tipo... as novas aprendizagens. Eu penso em inovar a humanidade usando presença, empatia, escuta, acolhimento, amor, respeito compaixão- miudezas de minha coleção. As Teresas e os Bernados hão de seguir supervalentes e superviventes mostrando a toda a gente do que os jovens são capazes!
--- No meu ver, não são as vivências juvenis que determinam a juventude, mas sim, a juventude que determina o que são experiências juvenis! Para finalizar, faço meu terceiro e último questionamento: até quando a sociedade vai enxergar as juventudes apenas aos moldes alísticos?
--- Precisamos de esperança, Teresa (do verbo esperançar). Se a natureza tem seus ciclos, por que as pessoas, os jovens haveriam de ser iguais?
--- Este segredo hei de espalhar, poeta!
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