Fonte: Vatican News, 19/08/2025
Por Greice Pozzatto - Jornalista / Assessora de Comunicação da Arquidiocese de Porto Alegre
Cuidar da juventude sempre foi uma das grandes vocações e desafios da Igreja. No coração da Arquidiocese de Porto Alegre, esse compromisso ganha novos contornos e renovado fôlego diante das transformações culturais, sociais e espirituais vividas pelas novas gerações. Foi nesse espírito de escuta, diálogo e missão que, na última semana, Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre e Presidente da CNBB, recebeu a visita da Doutora e Mestra em Teologia Patrícia Teixeira, pesquisadora do Observatório Juventudes da PUCRS.
Na ocasião, foi apresentado a Dom Jaime o mais novo livro organizado pela teóloga, em parceria com os pesquisadores Henrique Costa Brojato, Luiz Gustavo Santos Tessaro e Paulo Henrique Oliveira Soares: “Adolescência e a escola: formação integral e educação socioemocional”. A obra, que já está disponível para aquisição, representa uma importante contribuição ao debate contemporâneo sobre a adolescência, educação e espiritualidade, reunindo especialistas de diversas áreas para refletir sobre como educar e cuidar das juventudes em sua integralidade.
Nesta entrevista exclusiva, a Dra. Patrícia nos convida a mergulhar nas reflexões que fundamentaram a criação do livro, destacando os desafios, as potencialidades e os caminhos possíveis para um verdadeiro acompanhamento da vida adolescente na escola, na família, na sociedade e também na Igreja. Confira a seguir:
Como você definiria a juventude no contexto atual?
As jovens gerações são marcadas pela pluralidade e vontade de sentido. São jovens que experimentam intensamente os impactos da era digital, enquanto lidam com os modos como a sociedade se estrutura e os define. Vejo uma geração com muita sede de vida, em busca de pertencimento a projetos que realmente encontrem significado. Eles não aceitam ser reduzidos a estereótipos e clamam por autenticidade, respeito e coerência entre o que se diz e o que se é. Especificamente sobre o jovem adolescente, percebe-se uma conjugação de interrogações acerca da identidade, do seu papel no mundo, de que caminho trilhar e sobre seus referencias de existência. Inseguranças, medos, falta de pertencimento e/ou outras realidades tornam o processo ainda mais desafiador ao adolescente. Por isso, nosso papel de acolhida, orientação e acompanhamento torna-se ainda mais fundamental.
Quais características marcam o perfil do adolescente de hoje e como a escola pode trabalhar melhor com esse público?
A adolescência não pode ser vista apenas como uma fase de transição, como se fosse a antessala da vida. Adolescência é o agora. Se há características que se transformam, essas devem ser vistas na integralidade: corpo, psiquismo, cognição, habilidades, sociabilidades, espiritualidade. Há muita potência e muita energia na vida adolescente. Qualquer gesto educativo requer o olhar a partir de suas potências e do vínculo pessoa a pessoa, grupo a grupo. Nossa função pedagógica é de conduzir para uma educação mais cheia de presença de vida e de relações saudáveis. A escola tem um papel fundamental, mas não deve estar sozinha. A família precisa redescobrir a cultura do cuidado, do impulsionamento e do acompanhamento juvenil. E a Igreja, como parte de uma rede de apoio também possui uma função importante de ressignificações das relações juvenis mais amigas, solidárias e de experiências com a fé, através de valores de vida e eternidade. Como nos recordava o Papa Francisco: “O coração de cada jovem deve ser considerado uma terra sagrada” e como alertava o Papa Leão XIV no Jubileu dos Jovens, é preciso conexões de amizades saudáveis, a coragem como potência de esperança e a consciência do bem para si e para os demais.
Quais são os principais temas abordados e o que ele traz de novo para o debate sobre adolescência e escola?
O livro “Adolescência e a escola: formação integral e educação socioemocional” por si só já traz a novidade de debater as vivências próprias da adolescência, seus sentidos, perspectivas, dúvidas e significações de mundo. A adolescência é nova em uma contemporaneidade complexa e por isso, desafiante para todos, principalmente para o próprio sujeito que se redescobre em autonomia, competências e sociabilidades únicas. A escola atual cada vez tem enfrentado tensionamentos para o fortalecimento de uma educação socioemocional como parte da dinâmica transversal do currículo. Repito que a escola tem sua função educativa, mas não pode estar sozinha nesse papel. Por isso, o livro é composto por múltiplos atores sociais como redes de apoio. Outra questão é que há pouquíssimos materiais formativos com solidez e autenticidade no diálogo com adolescentes. Foi isso que buscamos no livro, trazer a pauta ferramental e de constituição de consciência pedagógica com adolescentes.
Como foi o processo de construção e organização da obra?
Ao todo o processo durou dois anos e teve por questão de fundo a seguinte interrogativa: como habitar a vida e a cultura juvenil por meio da educação? Entre a construção e consolidação do projeto, mais de 70 profissionais estiveram envolvidos entre pedagogos, psicopedagogos, neurologistas, psicólogos, psiquiatras, advogados, assistentes sociais, filósofos, teólogos e comunicadores. Iniciamos com rodas de diálogo com adolescentes, gestores e professores de todo o Brasil, contando com a excelente parceria entre o Observatório Juventudes da PUCRS/Rede Marista e a rede de educação Marista Brasil que conta com escolas privadas e sociais. Após os apontamentos feitos, organizamos a multiplicidade temática em pontos chaves: ser adolescente, pedagogia com adolescentes, educação socioemocional, saúde mental focada nas características juvenis, vínculos familiares e comunitários, inclusão social e vida segura. Foram convidados renomados autores dessas áreas que escreveram seus capítulos a partir dos seguintes tópicos: O que a realidade nos mostra? O que é importante saber? O que podemos fazer a respeito? Vamos refletir? Onde podemos obter material de apoio?
De que forma o conteúdo do livro pode ajudar educadores, famílias e os próprios jovens?
O auxílio principal é o acompanhamento da integralidade da vida e da pedagogia com adolescentes. O foco não foi pautado estritamente no bem-estar, mas sim, no bem viver. Ou seja, o conteúdo parte do entendimento adolescente sobre educação socioemocional, explora os paradigmas aceleratórios do mundo atual, aborda a formação integral necessária para esse tempo histórico, destaca as características do psicodesenvolvimento e os relacionamentos, explora a neurocognição, a corporeidade, o cultivo espiritual e sentido de vida, a arte, o ambiente natural, as ambiências digitais e a cultura do cuidado, as legislações que regulamentam o direito ao desenvolvimento integral e toca também nos pontos sensíveis, como a afetividade e sexualidade, fatores de drogadição, (cyber)bullying, comportamentos autolesivos, ideação suicida, prevenção e posvenção. O enfoque esteve entre os diagnósticos, as perspectivas, as abordagens e as oportunidades de atuação em prol da vida juvenil.
Onde e como é possível adquirir o livro?
O livro “Adolescência e a escola: formação integral e educação socioemocional” pode ser adquirido em formato digital ou físico no site da EdiPUCRS ou da Amazon. O formato digital também é encontrado pelo Google ou Apple.
O link para acesso é https://editora.pucrs.br/livro/1814/
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